sábado, 21 de janeiro de 2012

A Vida das Formas


Henri Focillon, teórico e historiador no princípio do século XX, dedicou parte da sua vida ao estudo da forma, criando o método de análise formalista. Na sua obra “A vida das formas”, editado pela primeira vez em 1943 (Vie des Formes suivi de Elogie de la main), o autor aborda a forma no espaço, no tempo, na matéria e no espírito.
No início da sua obra, Focillon propõe isolar temporariamente a obra de arte, despindo-a de todos os seus significados, das suas simbologias e das atribuições que lhe são dadas. Só depois deste exercício, segundo o autor, atingimos a verdade pura e verdadeira da obra de arte. Já sobre à obra de arte e sua relação com a forma, o autor conclui que “Tudo é forma, e a própria vida é uma forma” (Focillon, 1943: 12).
Aceitando esta visão englobante da forma, tal como o autor preconiza, também nós analisamos as formas no espaço, na matéria, no espírito e no tempo, revelando o que de ilusório existe na distinção entre forma e conteúdo. Assim, numa tentativa de passar da teoria à prática, e abraçando o desafio proposto pelo autor, cada um dos elementos do grupo, simbolizando estas quatro etapas, criou uma forma sobre a mesma temática - a mulher. Apesar de todos termos recorrido à mesma matéria e partilhado do mesmo local foi possível verificar que as formas obtidas foram radicalmente diferentes. Foi possível então concluir que a forma é o resultado de várias conjugações: o espírito, a matéria, o tempo e a técnica. Estes quatro elementos tornam a forma única. Segunda conclusão desta experiência é que o resultado do produto obtido trás a problemática do autor, para a atualidade. A forma não é estática, evolui segundo cada artista, influenciado pela corrente artística do momento, pelo tempo e pelas suas vivências. Todas estas premissas de criação de uma obra de arte, à luz do formato como o objeto artístico é entendido nos nossos dias, na nossa opinião, não pode estar mais atual.
De volta ao autor, a própria matéria, essência que dá vida à forma, assume um papel fundamental na sua criação, uma vez que a seleção da matéria é feita pela facilidade com que é trabalhada, pela adequação à sua finalidade prática e sobretudo por se prestarem a determinados efeitos. Para o autor, a obra de arte é “única” e nunca será possível “a cópia absoluta, mesmo numa matéria determinada ou no momento de maior estabilidade de um estilo” (Focillon, 1943: 60), porque as matérias não são constantes.
Trazendo esta visão do autor para a atualidade, na nossa opinião, há uma necessidade de rever a sua teoria uma vez que, nos dias de hoje, com o aparecimento da fotografia e outras técnicas de reprodução como a xilogravura, a serigrafia, a gravura, impressão, substituiu-se, segundo Walter Benjamin, o conceito de “existência única da obra por uma existência serial”. Esta afirmação leva-nos à questão da autenticidade da obra de arte que, para o referido autor, é o atributo exclusivo do original, e que a sua reprodução faz com que esta perca a sua “aura”, ou seja, o tempo em que é criada, o "aqui" e o "agora”.
Noutro campo de análise, Focillon, tal como nas teses de Platão, acredita que as formas vivem no espírito e podem existir somente aí. Para o historiador, o artista trabalha sobre a natureza, desenvolve a “técnica do espírito”, projeta a sua vida interior e materializa-a através das formas.
Outro prisma de análise da forma que mereceu destaque, foi a relação da forma da obra de arte com o Espaço. Nas teses do autor, o espaço influencia a perceção da forma. Ou seja, uma determinada forma colocada em espaços distintos, pode assumir diferentes valores artísticos. Por exemplo, um quadro famoso tem um valor diferente quando está num museu ou numa sala de estar.
Não podemos deixar de comparar a definição de estilo para este autor e a forma como hoje é analisada. Hoje em dia, não conseguimos definir um único estilo devido ao aparecimento de diferentes manifestações artísticas. Hoje, o conceito de arte é, em grande parte, fundada na visão pessoal de cada artista e esta pluralidade de sentidos não se coaduna com a visão mais circunscrevida do autor em relação ao estilo.
Em conclusão, cabe-nos reforçar que o pensamento do autor continua a estar atual, na medida em que a matéria, o espírito, o tempo e o espaço, continuam a interferir na criação da forma. No entanto, de uma maneira diferente. Se para Focillon, a forma era totalmente autónoma, atualmente essa autonomia não é total. No nosso entender, nos dias de hoje, a forma depende de diferentes variáveis, como o pensamento de quem a cria (o espírito) e de quem a observa e a critica, tal como o momento e o lugar em que é criada (tempo e espaço). Alguém que tem um conhecimento mais aprofundado sobre arte, poderá influenciar e ser influenciado durante a perceção da obra.

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