sábado, 21 de janeiro de 2012

As formas no tempo


São duas as grandes questões colocadas pelo autor neste capítulo: “Qual o lugar da forma no tempo e como se comporta ela aí?” e “Em que medida a forma é tempo, ou em que medida  não o é?” (Focillon, 1943: 85). Para abordar este paradigma, a forma é apresentada com a dualidade da intemporalidade e da forma estagnada no tempo. Sendo obra de arte, é intemporal, uma vez que esta se prolonga pelo tempo. No entanto, como forma que sucede e antecede outras formas – “(...) ela coloca-se antes e depois de outras formas (...)” (Focillon, 1943: 85).
Para Focillon, falar da vida das formas é evocar necessariamente a ideia de sucessão. Para isso, é necessário abordar a questão do tempo. Segundo este autor, tempo é “caso a caso, uma escala de medida, é como um movimento, como uma série de mobilidades e como uma mobilidade contínua” (Focillon, 1943: 85). Nas teses do historiador, a organização do tempo baseia-se, tal como a nossa vida, na nossa própria cronologia. Assim, o autor define o dia, o mês, o ano como tendo um princípio e um fim variáveis. Já todos notamos que, independentemente do tempo ser igual para todos, alguns de nós têm perceções diferentes do tempo. Todos nós já sentimos que determinados dias custam mais a passar que outros, e que determinadas tarefas parecem demoram uma eternidade.
Para o autor, a ordem do tempo leva-nos a graves confusões entre cronologia e vida, entre referência e facto e entre medida e ação. Precisamente a este respeito, acrescenta: “Temos dificuldade em não conceber um século como um ser vivo, em recusar-lhe semelhança com o próprio homem” (Focillon, 1943: 86). Se refletirmos nesta problemática, o século tem a sua juventude, a sua maturação e a sua decrepitude.  No entanto, o autor afirma que esta noção de tempo tem influência no trabalho do historiador, no sentido que estabelece e tenta modelar a vida história, segundo enquadramentos fixos (Focillon, 1943: 87). Onde está a citação?? Já sobre a data, Focillon sublinha que é um elemento fundamental da cronologia, pois permite relativizar os excessos de medição de determinadas dimensões (a relatividade do tempo perante o pensamento humano).
Para Focillon, o tempo flui, ora em ondas curtas, ora em ondas prolongadas, no entanto isto leva, segundo ele, a um duplo problema: qual a posição da obra no desenvolvimento formal?; Qual a relação deste desenvolvimento com os restantes aspetos da atividade? Para o autor, se o tempo da obra de arte fosse o tempo da história, estas questões não se colocariam, mas tal não acontece. Ao primeiro problema, Focillon afirma que a história não é uma sequência bem organizada; é repleta de diversidade, permuta e conflito, logo, a posição da obra no desenvolvimento formal torna-se complexa. Para a segunda questão, a arte, por estar intrinsecamente envolvida com a história, herda estas características, daí resultar  a relação entre a forma e o tempo. A este propósito, o autor refere: “a história não é uma sequência bem escalonada de quadros harmoniosos, antes é, em cada um dos seus instantes, diversidade, permuta e conflito. A arte (com letra minúscula ou maiuscula?) está nela envolvida e sendo ação, age, dentro e fora dela” (Focillon 1943: 89).

Mais à frente, o teórico recorre a Taine  para afirmar que a arte é uma obra-prima de convergência exterior e questiona-o ao afirmar que o mérito da arte seria decorar o tempo - deixando de a considerar como uma força, ao substituir o vazio ativo do tempo pela plenitude da cultura humana.
Para Focillon, o tempo influencia o próprio artista. O exemplo exposto no livro é o de Rembrandt que no início da sua vida artística, na Holanda, usa temáticas de dissecações académicas. Rembrandt no final da sua vida, já num outro tempo, usava temáticas completamente opostas com paisagens boémias do mesmo espaço – Holanda.

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